O peso invisível por trás das decisões no trabalho

No Direito, a “livre manifestação da vontade” é essencial para validar acordos. Mas quem atua com pessoas — seja no jurídico, no RH ou no Compliance — sabe que, na prática, a vontade nem sempre é tão livre assim.

No ambiente corporativo, muitas das nossas escolhas não são 100% nossas. Elas são moldadas pelas expectativas de líderes, da empresa e até dos colegas. E isso tem impacto direto sobre a cultura, o bem-estar e a integridade das relações no trabalho.

Vale lembrar, ainda, que para a maioria das pessoas, o trabalho não é uma escolha idealizada — é um meio de sobrevivência. Quando se depende do salário para comer, pagar aluguel ou cuidar da família, a liberdade de escolha fica limitada. Isso torna o trabalhador mais vulnerável a pressões sutis (ou nem tão sutis), fazendo com que aceite comportamentos, tarefas ou ambientes que não escolheria em outras condições.

Aqui vão 3 motivos para refletirmos sobre isso:

• Busca por aceitação e pertencimento: Decisões são muitas vezes tomadas para “caber” no grupo. E quando o pertencimento depende da conformidade silenciosa, a autonomia se enfraquece — e o risco de desvios éticos cresce.
• Medo de represálias ou julgamentos: Quando colaboradores sentem que não podem discordar ou propor caminhos diferentes, há um risco para a saúde da cultura organizacional. O silêncio, muitas vezes, é menos sobre concordância e mais sobre proteção.
• Normas invisíveis da cultura corporativa: Mesmo sem estar escrito, existe o que “se espera”. E quando essas expectativas não são questionadas ou debatidas, elas se tornam barreiras à manifestação genuína da vontade — inclusive em denúncias, feedbacks e decisões críticas.

O papel do Compliance, lideranças e do RH neste cenário? Criar um ambiente em que a escuta ativa, a segurança psicológica e a autonomia sejam práticas reais; não apenas discursos. Só assim será possível promover condutas éticas com base em escolhas autênticas, e não em imposições sutis.

Escolher com liberdade é diferente de apenas concordar. E garantir esse espaço é responsabilidade compartilhada: da liderança, do RH, do Compliance — e de todos nós.

Você já refletiu se suas escolhas profissionais foram realmente suas?

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